2010
de Marta Soares
"Em uma das salas da Oficina Cultural, transformada em galeria de arte, o chão e as paredes antigos e de madeira escura se chocam com duas estruturas grandiosas laterais que formam modernos painéis, nos quais são projetadas imagens de lugares variados, com sonoridades captadas que acompanham essa ambientação. No centro da sala, sobre uma plataforma elevada, soterrada por uma pequena montanha de areia, está Marta Soares, sendo lentamente revelada pela ação do vento de um ventilador ao pé da plataforma, que vai pouco a pouco empurrando a areia e nos revelando mais de seu corpo, que não se mexe.
Não, não há movimento, apenas esse delicado procedimento arqueológico de escavação que nos revela a performer, acompanhado pela alteração da ambientação da sala, enquanto a areia é removida de cima dela, formando no chão, um pouco mais a frente, uma nova pilha, essa, bem regular e sem os desenhos da geografia do corpo da intérprete, nem das paisagens projetadas. Vez ou outra, somos tirados do lugar reflexivo forçado pela obra, quando outro alguém do público passa em nossa frente, ou na frente das telas: não há uma plateia, e o público pode se movimentar livremente pelo espaço para observar o processo de revelação e descobrimento que se constrói, constante e muito vagarosamente, a nossa frente."
Henrique Rochelle ¹
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