É como se eu não existisse mais. É como se tudo o que há para ser dito não afetasse e não movesse mais ninguém. É como se tudo que há para ser ouvido não me pudesse me tirar do lugar. Há tempos que a palavra parece ter perdido o sentido. É necessário agir. Juntar-se a quem pode nos impulsionar a sair do estado de coma.
Quantos decibéis e que notas musicais são necessárias para tirar um corpo do eixo? Que objetos, formas e cores estimulam um pulmão a encher? Que movimentos fazem dançar uma cabeça cansada de existir? Que imagens projetadas e memórias visuais adentram uma corrente sanguínea? Como existir agora e estar pronto para que o corpo possa dizer?
Este projeto nasce de um desejo pessoal de me relacionar com artistas de outras linguagens para compreender como outras artes, de naturezas e procedimentos distintos dos meus, podemos mover um corpo. Um corpo e suas tantas camadas. Um corpo de um ator de teatro, branco, homossexual, beirando os 40, e que compreendeu que é necessário se voltar a um processo de mergulho pessoal para a descoberta e criação de outros discursos corporais.
Em três etapas, cada uma delas em interlocução com uma artista convidada - Hedra Rockenbach, Loli Menezes e Sandra Meyer -, buscaremos nos afetar, mergulhar nestas tantas perguntas, dividir com o público estas ações e discussões e encontrar pistas para um caminho distinto do que podemos imaginar.
As ações/performances poderão acontecer em salas de teatro, galerias, pátios, espaços externos, buscando se distanciar da ação frontal, a divisão palco e plateia, para estar muito perto do público. Não há, portanto, espaço determinado para cada ação/performance neste momento, assim como não há conteúdo metodológico definido para cada processo de criação. Apenas pessoas e pistas. Memórias projetadas, jogos corporais, estímulos musicais, depoimentos pessoais, dançar até a exaustão, cantar se necessário, gritar o que for preciso, puxar o tapete para provocar o corpo a falar e agir.
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